A educação seria responsável por salvar nossa existência no Planeta Terra?



A educação seria responsável por salvar nossa existência no Planeta Terra?

Não, se partirmos do princípio do atual formato de educação no Brasil. Sem dúvida para uma análise mais complexa são necessárias teorias que considerem o sistema de governo social e econômico do qual somos parte, lembrando ainda que “nem a cultura nem a educação flutuam livremente” (APPLE, 2004, p. 75). Realmente, não somos livres, não detemos poder sobre o que queremos ou precisamos estudar, e na maioria das vezes, não nos damos conta disso. Penso que isso é o mais grave, pois as pessoas vão se tornando alienadas em relação ao seu modo de vida e às forças e poderes que determinam o que é ensinado nas escolas. Nesse sentido, Leff (2009, p. 19) argumenta sobre o saber ambiental:

O saber (ambiental) se inscreve em uma rede de relações de outredade e com o real na construção de utopias por meio das ações sociais; ele confronta a objetividade do conhecimento com as diversas formas de significação do real, assim como nas condições de assimilação de cada sujeito e cada cultura, que se concretizam e fixam em saberes individuais e compartilhados, dentro de projetos políticos de construção social.

E no meu entendimento, o argumento de Apple (2204, p. 43), que o “sentido de comunidade” está morrendo, ajuda a entender uma busca pela facilidade do consenso, pois não exige o pensamento complexo do todo e das partes que o integram, nem mesmo considera o indivíduo e sua totalidade. Concordo totalmente com a análise do autor sobre “a ênfase exagerada no indivíduo” (p. 44), e as consequências disso, relacionadas ao consumo, por exemplo. Chama-se de consumismo essa perda completa da noção de responsabilidade e cuidado coletivo com os seres vivos e não vivos, e a necessidade da aprovação social pelo que se tem e pela capacidade de consumir, algo que Bauman aprofunda em sua obra Vida para Consumo. 

O uso da teoria da justiça social para o entendimento do papel da educação em uma sociedade complexa também me pareceu iluminar a compreensão sobre o momento em que vivemos. De longe algo simples e fácil de fazer, mas justamente é o que Apple (2204, p. 46) defende, que precisamos abandonar o conforto e a satisfação das leituras pura e simplesmente, mas precisamos mergulhar no “bom e velho trabalho ‘intelectual’”, lembrando sempre que, quanto mais fizermos esse movimento, menos arcaremos com consequências tão drásticas como as que vivemos, e mais teremos educadores prontos a encarar a “atividade educacional a partir de uma perspectiva ética, política e econômica, para não dizer crítica”. Ou seja, é para ontem a necessidade de iniciarmos essa caminhada.

Então, considerando que tenhamos professores capazes de se qualificar, intensificando o trabalho intelectual e ainda sensibilizados e conectados com uma educação ambiental que vise valorizar as relações sociais e as relações de cuidado com o meio ambiente, poderíamos pensar que a educação salvaria o planeta? Talvez esse seria um caminho. E mais intricado ainda,

a complexidade ambiental não apenas leva à necessidade de aprender fatos novos (mais complexos), mas também inaugura uma nova pedagogia, que implica reapropriação do conhecimento desde o ser do mundo e do ser no mundo, a partir do saber e da identidade que se forjam e se incorporam ao ser de cada indivíduo e cada cultura. (LEFF, 2009, p.20)

E para iluminar essas observações, cito o seguinte trecho: “as questões educacionais são, pelo menos parcialmente, questões morais, pois uma das coisas que acontecem é que elas determinam as escolas quanto aos domínios especializados que os educadores devem usar para compreender as crianças e a escola” (APLE 2004, p. 174). Dessa forma, destaco o sentido de viver em uma cidade, onde compartilhamos recursos, espaços o consumo e a natureza. Sauvé (2016) coloca que precisamos ir além de uma gestão ambiental, considerando a gestão das nossas relações com o meio ambiente onde vivemos.

Sem querer concluir ou encerrar o assunto, mas sim este texto, os desafios são enormes e a educação tem papel crucial. No entanto, sozinha não realizará o feito de contribuir na formação de gerações que saibam "viver juntos em nossa casa comum" como escreveu o Papa Francisco em sua encíclica "Cuidado da Casa Comum". E muito menos com este formato atual do processo de ensino e aprendizagem, pois para nos percebermos como parte da natureza, dessa casa comum a todos os seres vivos, é preciso conviver, criar intimidade, despertar afeto e carinho, sentimentos tão humanos quanto fundamentais. Infelizmente não vejo espaço para esse processo acontecer, nem nas bases de formação de professores, nem nos cotidianos das instituições de educação básica e muito menos fora delas. Existem iniciativas, mas poucas encontram eco para tomarem espaço e servirem como referência.



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