Será que o plantar dentro da linha é o novo pintar dentro da linha?!

Antes preciso destacar que
fiz mais duas vivências como esta, uma com grupos de cinco crianças, com idades
entre 4 e 5 anos e outra com uma turma de jardim A com 15 crianças. Fizemos em
bandejas e em canteiros, tanto as letras dos nomes quanto formas geométricas, como na foto ao lado. Agora
sim, bora conversar.
As reflexões que proponho aqui
partem dessas práticas, dessas propostas realizadas com as crianças, e posso
afirmar que são muito válidas! A provocação é quanto à intencionalidade
pedagógica que as acompanha. A partir do relato acima, quais pontos te chamaram
atenção? O que você faria diferente? Quais foram as maiores dúvidas que te surgiram?
Consegue imaginar as crianças da tua turma numa proposta assim? Vai fazer
sentido para elas?
O resultado final da germinação, caso você esteja se perguntando, pode ver nas fotos que fica muito bonito. O ponto chave sobre o qual convido para questionar e refletir está na compreensão do processo, para que não seja uma atividade esvaziada de significado, mais uma sendo oferecida para a criança fazer, simplesmente fazer sem se conectar, sem criar intimidade, sem sentir pertencimento. Outro ponto que para observar é que, mesmo para uma criança de quase 6 anos, com destrezas e habilidades bem desenvolvidas, é difícil pegar essas sementes pequenas e plantá-las dentro da linha estabelecida com a letra do seu nome. As sementes saltam para fora dos limites da linha, caem na terra e é praticamente impossível de encontrar. Quando começa a germinação, surgirão plantas aleatórias ao redor da letra e uma letra composta por brotos que não estarão totalmente dentro da linha. Mas então vale a pena? Sim, claro que sim! Só estou convidando a refletir sobre qual a intenção com o resultado final e como será conduzido esse processo? Vamos aprofundar um pouco.
Sobre o processo e algumas considerações quanto ao planejamento
Sinto dizer, mas plantar com as crianças sem que antes aconteça o brincar com os elementos envolvidos não vai funcionar! Sem dúvida semear dentro de uma linha para ver germinar o formato desenhado é uma proposta potente e enriquecedora para a criança, contanto que algumas propostas sejam oferecidas:
· Brincar livremente com a terra que será usada pra plantar;
Ah, e lamento contar que também
não vai funcionar oferecer uma ou duas dessas propostas em apenas em um ou dois
dias na semana e partir para o plantio. As crianças precisam brincar com TODOS os elementos envolvidos
na proposta e com continuidade
por alguns dias. Com esse brincar ela criará intimidade, relação, ela vai
conhecer, investigar, descobrir as coisas, vai inventar histórias e
compartilhar momentos únicos com seus amigos. Isso só é possível considerando frequência
na oferta dos elementos e tempo de qualidade.
O adulto que deseja realizar
uma proposta deve pensar primeiro na criança, nos seus desejos e vontades, no corpo
que quer se movimentar e descobrir as coisas do mundo. Se uma professora simplesmente
montar a estrutura com terra, potes e sementes para sua turma fazer o plantio, as
crianças não vão fazer. Elas simplesmente vão querer brincar! Pensem comigo,
vejam se concordam que é algo muito rápido para as crianças fazerem: pegar uma
semente e colocar na terra. É pouco, é muito pouco, a criança pode e merece
mais. Colocar a semente na terra é o fim de uma etapa que deveria
acontecer por umas duas semanas, com muita brincadeira e vivências significativas.
Assim, quando o adulto propuser o plantio da semente, a criança fará com
envolvimento, com desejo de ver a vida crescer a partir da semente que ela já conhece,
naquela terra que ela ama e que tantas brincadeiras proporcionou.
Durante o processo de
cuidado das sementes, é preciso colocar água todos os dias, no mínimo duas
vezes ao dia. Certifique-se de que a água está saindo pelos furos feitos nas
bandejas e de que não fica acumulada na terra, se não as sementes irão mofar. Cuide
também para que as bandejas de germinação estejam em local arejado, com boa
ventilação e iluminado, sem sol direto. Em 7 dias, dependendo da semente,
inicia então uma nova etapa, a da germinação e o acompanhamento do
desenvolvimento dos brotos. Quando
as plantas tiverem de duas a quatro folhas, pode-se convidar as crianças
a cortar com tesouras e acrescentar
em saladas. Os brotos são riquíssimos em nutrientes como vitaminas
diversas, proteínas, fibras e antioxidantes.
Importante:
Ø
as sementes
não podem ter sem agrotóxicos, nem aditivos químicos, você vai encontrar essas
informações no pacote;
Ø nem todo o broto é comestível, sugiro os seguintes: feijão, lentilha, rúcula, girassol, brócolis, rabanete, alfafa, alface, mostarda.
Se desejarem, é possível plantar na horta ou em
vasos para que se desenvolvam e tornem-se plantas adultas. Para isso,
considere que uma semente deu origem a uma planta, então, usem como referência
o tamanho da planta adulta para respeitar o espaçamento entre cada mudinha. De
todas as sementes acima citadas, apenas a de rabanete não aceita esse
transplante. Ou seja, ou vocês consomem como broto, ou plantam direto no
canteiro para em 30 dias iniciarem a colheita.

Outra coisa, professoras, tentem
fazer esses testes antes. Na escola mesmo ou em casa, e divirtam-se durante o
processo, além de muitos aprendizados que só o fazer proporciona.
Você encontra as sementes para comprar em supermercados e agropecuárias. Dependendo do que você vai plantar, um pacote será suficiente. Confira a quantidade no rótulo.
Bons plantios e ótimas
colheitas.
Que as crianças tenham cada
vez mais oportunidade de convívio com a nauteza!




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